Corona Vírus: a verdade que contaminou “Fake”

Carla Galvão em A Fábrica de Nada © Vasco Viana (Foto remix)
Na passada quinta-feira, 23 de Janeiro, fui convidada a assistir a um dos ensaios do espectáculo “Fake” (de Inês Barahona e Miguel Fragata) a estrear dia 19 de Março, no Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII).
Após ter sido recebida com um excessivo entusiasmo por parte da equipa, que notoriamente tentava disfarçar o seu constrangimento, fui convidada a entrar na sala de ensaio. O ambiente não podia ser pior: os encenadores Miguel Fragata e Inês Barahona discutiam fervorosamente a propósito do possível despedimento da actriz Carla Galvão – que estava igualmente presente na sala, fingindo não ouvir nada, mas visivelmente perturbada.
Inês Barahona acusava Carla Galvão de ser portadora do COVID-19 (Corona Vírus), e de tentar contagiar toda a equipa com o intuito de boicotar o espectáculo. O teor da discussão e a reacção do resto da equipa denunciavam a recorrência deste assunto. A quezília termina com Inês Barahona a abandonar o espaço de ensaios gritando insultos – demasiado obscenos para serem citados – a Miguel Fragata.
Instalou-se um silêncio fúnebre pautado apenas pelo som de amêndoas que Carla Galvão comia compulsivamente, numa alienação desconcertante. O actor Duarte Guimarães tapa, discretamente, o nariz com o seu cachecol. João Monteiro quebra o silêncio anunciando em tom melancólico que é o dia do seu aniversário, e que trouxe um bolinho para o fim do ensaio. Ninguém responde.
A pedido do encenador, os actores fazem uma leitura da última versão do texto e assim que terminam, Anabela Almeida aproveita para expressar a sua opinião sobre o mesmo: “Com Corona ou sem Corona, estou convicta de que o espectáculo vai ter um alcance do tipo viral!”.